O Papel do Pai nos Primeiros Meses: Mais do que Ajudar, é Participar
Reflexão sobre paternidade ativa e como o envolvimento desde o início fortalece vínculos e apoia a mãe
A chegada de um bebê transforma completamente a vida de um casal. É o início de uma nova jornada cheia de descobertas, alegrias e desafios. Nesse momento, muito se fala sobre a mãe: seu papel na amamentação, no vínculo afetivo com o bebê, nas noites mal dormidas. No entanto, pouco se discute, de forma profunda, o papel do pai nos primeiros meses de vida do bebê — um papel que vai muito além de "ajudar" ou "ficar de apoio".
O pai tem uma função essencial na formação do vínculo familiar, no suporte emocional e físico à mãe e, principalmente, na construção de uma relação afetiva única com o filho ou filha. Neste artigo, vamos refletir sobre o que é ser um pai participativo, por que essa presença faz diferença desde o início e como ela impacta positivamente o desenvolvimento da criança e a saúde mental da mãe.
A ideia ultrapassada de “ajuda”
Durante muito tempo, a cultura popular e a linguagem cotidiana colocaram o pai no lugar do “ajudante”. Expressões como “ele me ajuda com o bebê”, “ajuda nas fraldas”, ou “ajuda quando pode” ainda são comuns. Mas essa visão reforça uma desigualdade: pressupõe que o cuidado com o filho é, por natureza, responsabilidade exclusiva da mãe — e que o pai, quando participa, está “fazendo um favor”.
A paternidade ativa rompe com esse paradigma. O pai não está ali para ajudar, mas para assumir sua parte igualitária no cuidado com o bebê, na construção da rotina familiar e no suporte emocional da parceira.
O que é paternidade ativa?
A paternidade ativa é um conceito que vai além da presença física. Ela envolve comprometimento, responsabilidade e envolvimento emocional real com o bebê e com a mãe. Um pai ativo:
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Participa dos cuidados diários (banho, troca de fralda, colocar para dormir);
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Aprende sobre desenvolvimento infantil e sinais do bebê;
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Estabelece momentos de conexão direta com o filho;
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Apoia emocionalmente a mãe, escutando, acolhendo e dividindo as tarefas da casa;
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Enfrenta os desafios da parentalidade junto com sua parceira.
Não se trata de perfeição, mas de intenção, presença e disponibilidade emocional.
Por que o papel do pai nos primeiros meses é tão importante?
Os primeiros meses de vida de um bebê são marcados por intensidade emocional, instabilidade de rotina e grandes transformações físicas e psicológicas na mãe. Nesse contexto, a presença efetiva do pai traz benefícios importantes:
1. Fortalece o vínculo familiar
O vínculo entre pai e filho se forma desde o nascimento — ou antes, ainda na gestação. Quanto mais cedo o pai estiver presente no cotidiano da criança, mais natural será essa conexão. Isso fortalece a segurança emocional do bebê e contribui para sua formação afetiva.
2. Reduz o risco de exaustão materna
A sobrecarga mental e física da mãe nos primeiros meses pode levar ao esgotamento, à ansiedade e até à depressão pós-parto. Quando o pai divide as tarefas, o impacto é direto na saúde e bem-estar da mulher.
3. Constrói um modelo positivo para a criança
Crianças que crescem com pais presentes e afetuosos tendem a desenvolver mais empatia, segurança emocional e modelos mais saudáveis de relação no futuro.
Atitudes práticas de um pai participativo nos primeiros meses
1. Estar presente desde a gestação
A paternidade ativa começa antes mesmo do nascimento. Ir às consultas, participar dos exames, acompanhar o desenvolvimento do bebê ainda na barriga são formas de se vincular emocionalmente com a experiência da gestação e com a futura chegada do filho.
2. Dividir os cuidados práticos
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Trocar fraldas;
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Dar banho;
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Ninar;
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Colocar para arrotar;
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Levar às consultas pediátricas;
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Preparar mamadeiras (quando necessário);
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Lavar roupinhas, arrumar o quarto, organizar a bolsa do bebê.
Essas tarefas não são “favores”. São atribuições naturais da paternidade.
3. Oferecer suporte emocional à mãe
Nos primeiros meses, a mãe pode se sentir insegura, cansada, confusa ou culpada. O pai pode apoiar com:
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Escuta ativa (sem julgamentos);
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Validação dos sentimentos;
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Participação nas decisões do dia a dia com o bebê;
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Incentivo à mãe para cuidar de si (banho tranquila, um cochilo, uma caminhada).
4. Criar momentos só dele com o bebê
Mesmo que o bebê seja amamentado exclusivamente pela mãe, o pai pode ter momentos de contato direto:
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Passeios de colo;
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Conversar com o bebê (mesmo que ele não entenda as palavras);
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Cantar, embalar, brincar;
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Dar banho — um momento especial e íntimo entre pai e filho.
Esses momentos ajudam o bebê a reconhecer a figura paterna como fonte de segurança e conforto.
Os desafios da paternidade nos primeiros meses
Nem sempre é fácil assumir um papel ativo. Muitos homens enfrentam obstáculos como:
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Falta de modelos positivos de paternidade na própria infância;
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Pressões sociais que associam cuidado com fragilidade ou feminilidade;
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Medo de “fazer errado”;
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Dificuldade de comunicação no casal.
É importante lembrar: ninguém nasce sabendo ser pai. É um aprendizado contínuo, feito de tentativa, erro e muito afeto. O essencial é querer estar presente, aprender e se envolver.
A importância da licença-paternidade
No Brasil, a licença-paternidade oficial é de apenas 5 dias corridos, o que é extremamente insuficiente para que o pai se envolva de forma real nos primeiros dias de vida do bebê. Algumas empresas oferecem licenças estendidas (de 15 a 20 dias) por meio do programa Empresa Cidadã, mas a adesão ainda é baixa.
Ampliar a licença-paternidade é um passo importante para que a sociedade reconheça a responsabilidade compartilhada na criação dos filhos. Enquanto isso, os pais que desejam se envolver podem usar:
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Férias programadas logo após o nascimento;
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Regime de home office (quando possível);
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Flexibilidade de horários acordada com a empresa.
A paternidade ativa também é autocuidado
Participar dos cuidados com o bebê pode ser desafiador, mas também é profundamente transformador e gratificante. Muitos pais relatam que:
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Sentem-se mais conectados emocionalmente com o filho;
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Desenvolvem uma nova sensibilidade e empatia;
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Redescobrem sua identidade fora dos estereótipos tradicionais de masculinidade;
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Passam a valorizar mais o trabalho de cuidado e a parceria no relacionamento.
A paternidade ativa também é um convite ao autoconhecimento. É uma jornada de crescimento pessoal.
Quando o pai não está presente: o papel de outras figuras masculinas
Infelizmente, nem todos os bebês têm um pai presente em seus primeiros meses. Mas o papel de uma figura masculina afetiva e participativa pode ser exercido por:
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Avôs;
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Tios;
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Padrastos;
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Amigos da família.
O importante é que a criança possa conviver com modelos de masculinidade cuidadora, presente e afetuosa.
Depoimento real: o que diz um pai envolvido
“No início, eu achei que ia só ‘dar uma força’, mas logo percebi que aquilo era também meu papel. Trocar fralda, acalmar o choro, fazer dormir... cada pequena tarefa me conectava mais com meu filho. E quando minha esposa começou a sentir que podia contar comigo, nosso relacionamento ficou ainda mais forte. Ser pai me mudou.”
— Rodrigo, pai do Luca, 7 meses.
Conclusão: mais do que ajudar, é ser pai
A paternidade ativa não é modismo. É uma necessidade emocional, social e familiar. O envolvimento do pai nos primeiros meses contribui para o bem-estar do bebê, fortalece o relacionamento do casal, reduz sobrecarga materna e transforma a forma como a criança verá o mundo.
Assumir esse papel de forma consciente é um dos maiores atos de amor e responsabilidade que um homem pode exercer. Ser pai não é ajudar. É estar, cuidar, dividir, sentir, viver. Desde o primeiro dia.
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